Defeitos refrativos não corrigidos em crianças podem gerar alterações nas funções visuais e afetar seriamente sua educação acadêmica futura bem como o seu desenvolvimento neuropsicomotor.
Erros refrativos são de fácil diagnóstico e correção. Deve ser realizado exame oftalmológico com testes de medição de acuidade visual, diagnóstico dos defeitos refrativos e a prescrição das lentes adequadas para que se consiga minimizar essas importantes consequências no desenvolvimento da criança.
Dados da International Agency for Prevention of Blindness (IAPB) mostram que uma baixa acuidade visual poderia afetar ao redor de 5,5% dos escolares e que 80% dos casos de crianças escolares com baixa acuidade visual poderiam vir a ser corrigidos apenas com o uso de óculos.1 Vários estudos realizados nas diversas regiões do Brasil e publicados na literatura científica corroboram essas informações internacionais e mostram a realidade sobre a necessidade de se prescrever uma adequada refração em crianças em nosso país. 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
A SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica), em 2007, realizou pesquisa entre seus membros associados e desenvolveu um consenso sobre a prescrição de óculos para crianças pré-verbais (definidas como de 0 a 3 anos de idade). As recomendações abaixo estão baseadas em estudos referendados pela American Academy of Ophthalmology e foram adaptadas pela SBOP para a realidade da população brasileira.9
RECOMENDAÇÕES
Assim, a SBOP sugere que sejam prescritos óculos para crianças pré-verbais nos seguintes casos:
1º Crianças portadoras de MIOPIA (sem anisometropia)
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus de – 4,00 Dioptrias (D) ou maiores
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus de – 3,00 D ou maiores
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus de – 2,50 D ou maiores
2º Crianças com HIPERMETROPIA (sem anisometropia e ortofórica)
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus de + 6,00 D ou maiores
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus de + 5,00 D ou maiores
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus de + 5,00 D ou maiores
• Reduzir a prescrição final de 1,00 a 2,00 D
3º Crianças com HIPERMETROPIA (com ET acomodativo de aproximadamente 30 Dioptrias Prismáticas)
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus maiores que + 2,00 D
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus maiores de + 2,00 D
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus maiores de + 1,50 D
• Prescrever toda a refração sob cicloplegia. Se maior que 3,00 D pode diminuir em 0,50 D a refração final.
4º Crianças com ASTIGMATISMO (sem anisometropia)
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus maiores do que 2,50 D
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus maiores do que 2,50 D
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus maiores do que 2,00 D
5º Crianças portadoras de ANISOMETROPIA HIPERMETRÓPICA
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus de + 2,00 D ou maiores
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus de + 1,50 D ou maiores
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus de + 1,50 D ou maiores
6º Crianças portadoras de ANISOMETROPIA MIÓPICA
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus de – 2,50 D ou maiores
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus de – 2,50 D ou maiores
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus de – 2,50 D ou maiores
7º Crianças portadoras de ANISOMETROPIA ASTIGMÁTICA
• Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus 2,00 D ou maiores
• Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus de 1,50 D ou maiores
• Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus de 1,50 D ou maiores
OUTRAS RECOMENDAÇÕES
• Recomendar o uso de lentes endurecidas inquebráveis (de policarbonato), mesmo sem grau, em crianças com visão monocular para minimizar riscos de traumatismos no olho único com visão.
• A partir dos 4 anos de idade, a criança pode colaborar nos testes subjetivos para a decisão sobre a melhor correção a ser prescrita.
• Essas recomendações ou sugestões podem ser modificadas caso a caso e sempre dependendo de demais dados clínicos do paciente.
• Em pacientes com ambliopia refrativa (que afeta de 1 a 4% da população) deve-se tratar com óculos e oclusão (conforme protocolos de oclusão) até a idade de 10 anos.
• Em pacientes com astigmatismo de eixos oblíquos, que comprometem mais o desenvolvimento visual, devem ser corrigidos graus a partir de 1,50 D.
• A necessidade de proteção dos olhos das crianças com o uso de óculos com filtros protetores contra a fototoxicidade gerada pela emissão de radiações UVA/UVB provenientes da atmosfera e dos aparelhos emissores de ondas eletromagnéticas do tipo computadores, TVs, celulares, laptops, fornos de micro ondas, iluminação doméstica por luzes frias ou azuladas, entre outros equipamentos de uso comum no dia a dia, deve ser estimulada pelos oftalmologistas que deverão conscientizar os pais e cuidadores.
Sobre esse fato que, futuramente, poderá causar catarata de formação precoce além de predispor à maculopatia degenerativa relacionada à idade (DMRI).10,11
Fonte: SBO